A nostalgia como forma de entretenimento não é novidade, mas ainda não havia sido explorada plenamente com foco na geração zillennial — um grupo composto por jovens adultos na transição entre os Millennials e a Geração Z, que hoje representam uma das maiores faixas etárias nos Estados Unidos.
Sentar-se em um bar de vinhos naturais antes de uma sessão antecipada do novo live-action de Lilo & Stitch pode parecer uma experiência incomum para um adulto sem filhos. Chegar levemente embriagado à exibição de um filme infantil torna tudo ainda mais surreal. Mas, assim como o vinho laranja, a nostalgia tem um efeito poderoso.
Neste fim de semana, um alienígena azul em forma de cachorro e uma garotinha de seis anos com comportamento difícil desbancaram ninguém menos que Tom Cruise, um dos últimos grandes astros do cinema. Lilo & Stitch superou Missão: Impossível – Acerto Final e depois ultrapassou Top Gun: Maverick (2023), tornando-se a maior estreia de todos os tempos no feriado de Memorial Day, com uma arrecadação doméstica de US$ 182,7 milhões.
Embora seja esperado que um filme para toda a família conquiste bons números durante um feriado prolongado e quente, como o Memorial Day, o verdadeiro choque para muitos — inclusive colegas desta publicação — foi ver Lilo & Stitch, um título considerado de segundo escalão na era de ouro da animação da Disney, alcançar esse feito.
Lançado originalmente em 2002, o filme chegou após o auge da animação tradicional da Disney, quando títulos como A Pequena Sereia, Aladdin e A Bela e a Fera já haviam ficado para trás. Produções como Lilo & Stitch, Atlantis: O Reino Perdido e A Nova Onda do Imperador foram rapidamente ofuscadas pelo avanço da Pixar. Lilo, por exemplo, foi lançado entre Monstros S.A. e Procurando Nemo.
Apesar de não ter sido um sucesso estrondoso de bilheteria nem de ter recebido aclamações da crítica ou versões musicais premiadas, Lilo & Stitch conquistou uma legião de fãs graças ao seu impacto no mercado pós-cinema. O filme ganhou versões em VHS e DVD, uma série animada exibida na ABC Kids e no Disney Channel, além de jogos eletrônicos. Essa multiplicidade de produtos ajudou a formar um vínculo emocional que perdura até a vida adulta.
Na nova versão, o público geral representou 56% dos compradores de ingressos — um número elevado para um título familiar, segundo dados da Disney e da PostTrak, uma das principais empresas de pesquisa de audiência nos cinemas. Para efeito de comparação, o público geral representou 43% das vendas de Moana 2. Entre os fãs mais leais de Lilo & Stitch, jovens de 18 a 24 anos representaram 32% do público não familiar, enquanto aqueles entre 25 e 34 anos somaram 33%.
Originalmente planejado para estrear exclusivamente no Disney+, o live-action de Lilo & Stitch acabou migrando para os cinemas, refletindo uma mudança estratégica da Disney: menos foco em lançamentos originais no streaming e mais investimentos na experiência cinematográfica tradicional.
Nos anos 2000, ainda existia uma certa uniformidade cultural entre os jovens americanos. Eles assistiam aos mesmos programas de TV, frequentavam cinemas regularmente e criavam hábitos que, mesmo abalados pela ascensão do streaming, não desapareceram por completo. Ir ao cinema era parte da rotina dos zillennials — e a memória desse hábito ainda vive.
Um profissional que participou da produção, na faixa dos 40 anos, contou que não entendia bem a comoção em torno de Stitch até perceber o entusiasmo dos jovens executivos e assistentes da Disney, todos na casa dos 20 e 30 anos, que cresceram imersos nesse universo.
O verdadeiro teste do poder dessa geração nos cinemas virá ainda neste verão, com o lançamento de Freakier Friday, estrelado por Lindsay Lohan — ícone máximo dos zillennials. A continuação da comédia de troca de corpos de 2003 (remake do clássico de 1976 com Jodie Foster) poderia facilmente ser lançada diretamente em streaming, mas chegará às telonas em agosto, marcando uma rara exceção entre os live-actions da Disney que não são adaptações de animações recentes.